Seja um líder inútil!
Vemos muitas vezes nas organizações líderes que fazem o possível para se tornarem indispensáveis à sua equipa e resultados.
Fazem-no:
· Agregando a informação em si,
· Delegando poucas tarefas e controlando muito as que delegam,
· Fornecendo as respostas sem as explicar, e
· Focando-se em criar soluções e em partilhar pouco do processo como o fazem.
A intenção por trás deste comportamento pode ser muito boa. O líder pode estar tão focado em “apagar os fogos”, com tão pouco tempo para ensinar, e tão resoluto em chegar aos resultados pretendidos, que facilmente encarreira num caminho onde ele domina todas as partes do processo e é o primeiro responsável por as colocar a funcionar.
Apesar deste comportamento ter tido resultados interessantes e ter mesmo sido incentivado pelas organizações do século passado, hoje em dia vê-se os efeitos nefastos desta conduta, para o próprio líder, para a equipa e para a empresa.
As empresas ficam reféns de um colaborador. Qualquer dor de barriga, férias, acidente, baixa ou simples alteração de humor pode ter impactos sérios nos resultados. Isto é tão mau como só ter um cliente ou um só fornecedor… a balança de poder fica desequilibrada.
É mau para a equipa, pois é muito difícil alguém aprender, crescer e desenvolver-se num ambiente deste género. Tipicamente as equipas destes líderes[JP3] são colaboradores um pouco amorfos, sem grandes perspetivas de futuro e desmotivados. Faltam-lhes autonomia, incentivo, comprometimento e responsabilidade.
E é especialmente mau para o líder.
Aliás, nem se pode chamar líder, pois no fundo ele é um bombeiro. Passa os dias a lidar com urgências e a resolver problemas. Provavelmente chega a casa cansado, com pouca energia e ainda algum trabalho para fazer, com muitas preocupações e cada vez com mais dificuldade em gerir estados anímicos/emocionais. Pode mesmo começar a “descontar” nos colaboradores, muitas vezes reclamando “que eles não fazem nada” e “tenho de ser eu a tratar de tudo” quando nunca deu treino nem oportunidade para que tal acontecesse.
Por todos estes motivos, a tem promovido nas organizações uma outra filosofia de liderança. Esta corrente tem-se desenvolvido muito nos últimos anos e pretende promover um líder “inútil”. Não é incompetente ou incapaz, é “inútil”. Ou seja: é especialmente competente e capaz!
O objetivo último deste líder é que o resultado da equipa não dependa da sua intervenção direta. É criar uma equipa tão capaz de resolver problemas, tão segura a desenvolver soluções, tão líder de si própria, que ele pode ausentar-se um dia ou uma semana e a flutuação do resultado é mínima.
As vantagens para a empresa são claras: equipas mais preparadas, mais motivadas, com melhores respostas aos desafios e com quase zero dependência de outros.
Nas equipas vemos agora colaboradores verdadeiramente comprometidos com os resultados, pois eles fizeram parte da solução. Vemos pessoas em crescimento, com autonomia, que lideram o processo e buscam diariamente a excelência. Pois é isso que um líder faz.
E vemos um verdadeiro líder. Alguém que criou valor na sua equipa e que se focou na melhor forma da companhia conseguir as metas a curto e longo prazo. Que tem tempo de planear, organizar e antecipar problemas. Que tem calma e serenidade no seu dia-a-dia, e que consegue ter capacidade mental para enfrentar grandes desafios.
Imagine o seguinte caso: É o CEO de uma organização e tem oportunidade de promover alguém para um cargo importante. Eis que aparecem dois candidatos.
O Candidato A tem ótimos resultados, relações laborais médias (na melhor das hipóteses) e se sair da função em que está, perde-se aquele resultado (ou sofre-se um grande golpe até se criar um novo líder)… e esse resultado é importante para a organização.
O Candidato B tem ótimos resultados também, relações laborais top (ou próximas disso) e percebe-se que ele criou líderes dentro da equipa, que permitem que ele saia sem grande influência no resultado.
Quem é que promove?
Nas organizações modernas, não chega ser excelente, é necessário promover a excelência nos outros… E quanto mais fizer isto na equipa onde está inserido, mais a organização lhe vai pedir que o faça em níveis de maior importância e responsabilidade.