Vou continuar a série de artigos que iniciei aqui sobre um estudo feito a Cristiano Ronaldo. Hoje analiso o item Capacidade Mental.
Neste item, os cientistas pretendem descobrir quanto é que o cérebro e a forma como Cristiano Ronaldo (CR) o utiliza contribuem para a sua performance dentro de campo.
É maravilhoso ver que tanto Arséne Wenger como o próprio Ronaldo de imediato falam não das capacidades espaço-matemáticas do cérebro e sim das características intangíveis da mente, no caso concreto a autoconfiança e a fortaleza de espírito.
O primeiro teste realizado pretende perceber qual o peso do seu processamento mental na execução de uma finta. Para isso ele realiza um exercício onde tem que manter a bola em sua posse enquanto um adversário procura tirar-lha. CR e o seu oponente estão equipados com um aparelho que permite ver o exato ponto para onde estão a olhar durante o desafio.
Naturalmente, CR mantém o controlo da bola durante os 8 segundos do exercício, sendo que a verdadeira descoberta está em perceber que ele olha para coisas muito diferentes do adversário. Antes de fazer a finta, CR olha para a bola, depois para as ancas, pernas e pés do adversário, depois para o espaço para onde quer que a bola vá, e a seguir executa a finta. Esta observação do corpo do oponente é critica para o seu sucesso, pois é essa leitura que lhe permite perceber qual o ponto fraco e executar o que procura.
Uma observação deste género implica que no espaço de milésimos de segundos, o cérebro de CR execute complexos cálculos sobre a velocidade, pressão no apoio, tempo de reação e tudo apenas com a observação externa de ângulos da anca e pé.
Como devem imaginar, é impossível este cálculo ser feito com a mesma rapidez conscientemente, por isso CR utiliza a mesma capacidade que nós utilizamos ao conduzir um carro.
Numa estrada movimentada, um condutor é capaz de num curtíssimo espaço de tempo, calcular as velocidades de carros no mesmo sentido e sentido oposto, avaliar espaços, percecionar aberturas e quase que adivinhar movimentos dos outros condutores. Esta capacidade, tal como a de CR, é explicada pela psicóloga desportiva Zoe Wimshurst como sendo resultado de anos de treino, que viram milhões de movimentos e jogadas. Estas são registados no cérebro de uma forma que inconscientemente. Quando necessitamos, conseguimos aceder a eles e utilizar essa experiência passada para “adivinhar” o futuro.
Por que razão outros jogadores que treinam com afinco não têm a mesma capacidade?
A resposta será sem dúvida complexa e uma mistura de várias situações, sendo que a mais importante, da minha perspetiva, relaciona-se com a “prática deliberada” que falamos no artigo passado.
CR está permanentemente em modo aprendizagem quando treina ou joga, o que lhe permite observar todas as experiências como mais dados para ser melhor no futuro. Este modo de aprendizagem “constante” e aceitação de feedback é um dos maiores componentes do sucesso, identificado como tal por milionários e empresários como Warren Buffet ou Donald Trump.
No teste seguinte, uma bola é cruzada para CR cuja função é marcar golo.
Isto seria simples, não se desse o caso de as luzes serem desligadas durante o voo da bola e de o recinto ficar na mais completa escuridão. Como base de comparação, o teste é feito também por um futebolista amador chamado Ronald, o qual falha a sua tentativa de acertar na bola. CR, por outro lado, acerta à primeira e uma outra vez a seguir (só para ver se não tinha sido sorte).
O processo cerebral que está a ser utilizado é o mesmo que no exercício anterior, pois Cristiano está a retirar informação do corpo do jogador que remata a bola e da trajetória da mesma, recorrendo à memoria de situações passadas e juntando essa informação com o movimento do seu corpo para marcar golo. Ronaldo consegue marcar mesmo quando a luz é desligada logo a seguir ao cruzamento, isto é, sem nunca chegar a ver a bola no ar.
Se houvesse dúvidas que o nosso cérebro é uma “máquina” fantástica, ela estaria desfeita aqui, pois sem dúvida que este é um exercício muito difícil de realizar. De referir que há mais um fator que pesa muitíssimo neste capítulo, a autoconfiança. Cristiano Ronaldo sabe que consegue fazê-lo, sabe que treina, que se esforça, que aprende, que está sempre em busca de evoluir e por isso tem confiança no seu inconsciente e aceita o cálculo que este faz. Esta capacidade de acreditar quando outros duvidam é uma das que caracteriza “génios” como Steve Jobs ou Jeff Bezos (Amazon.com).
A Programação Neurolinguística (PNL), enquanto disciplina que estuda indivíduos de sucesso e mapeia a forma como o atingem, é extremamente útil na vertente do treino mental. Através de exercícios simples e poderosos, qualquer pessoa pode efetivamente condicionar o seu cérebro como CR faz com o dele, com a vantagem de não ter que ter de começar aos 12 anos – tendo, contudo, outras condicionantes para lidar. CR é um practitioner em PNL “natural”! 😉
No próximo artigo, analiso a técnica de Ronaldo e o que com ela podemos aprender que nos ajuda no nosso sucesso diário.